10 de out. de 2007

A bagunça de Cabral

Juliana Lopes, do Prosa Afiada

“Foi na Conceição da Praia que nasceu a primeira rua da cidade, o espaço onde os recém-chegados na comitiva de Thomé de Souza levantaram um acampamento, canteiro de obras e moradias provisórias”, afirma Luiz Eduardo Dórea, jornalista, pesquisador e autor do livro “Histórias de Salvador no Nome das suas Ruas”. Ele acredita, ainda, que, “naquele tempo, as ruas não tinham nome, sendo decisão dos moradores estabelecerem códigos com referências próprias para nomear sítios”.

Desde a sua origem, ainda na época da colonização, Salvador já demonstrava sinais de um desenvolvimento desordenado. A cidade refletia, no primitivo traçado das suas ruas, a fisionomia típica de um aglomerado urbano. Tal fenômeno foi responsável por um processo de “conurbação”, que deu origem a uma espécie de interpolação dos bairros. “Salvador cresceu de forma desestruturada. Ninguém, até hoje, sabe onde um bairro começa e onde o outro termina. Aliado a esse desenvolvimento desorganizado, houve, ainda, um intenso processo de ‘favelização’, responsável pela sobreposição de bairros e ruas soteropolitanos”, explica Tânia Palma, presidente da Federação das Associações de Bairros de Salvador, FABS.

Uma das principais conseqüências do crescimento desordenado é que, ainda hoje, é difícil registrar o número e o nome exato de bairros dentro da cidade. Na prefeitura, são conhecidas, apenas, dezessete amplas regiões administrativas e setenta e seis zonas de informação. “A prefeitura não tem um limite oficial. O máximo que conseguimos fazer é trabalhar com as zonas de informação, estruturas menores que mais se aproximam do que entendemos por bairro”, afirma Madalena Araújo, diretora do setor de manutenção do cadastro de logradouros da Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente, SEPLAM.

Na maioria das vezes, os registros oficiais são utilizados por historiadores e pesquisadores que decidem se aprofundar no assunto. Mesmo recorrendo, entretanto, a tais fontes, ainda assim, tais estudiosos não deixam de reconhecer a origem popular da maioria dos logradouros soteropolitanos. Para Madalena, por exemplo, “a origem do topônimo ‘Rua da Faísca’ é mais uma marcante prova da originalidade que cerca a denominação criada pelo povo. Trata-se de uma sátira alusão à Segunda Casa da pólvora, a quem a dita via dava acesso”, afirma a diretora.

Como um organismo vivo, portanto, Salvador se desenvolveu de forma espontânea e desorganizada, conforme as conveniências e necessidades de seus moradores. Esse crescimento desordenado dificultou a criação de um registro que mapeasse os bairros da cidade, fazendo com que, atualmente, existam diferentes histórias acerca da formação da cidade.
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