7 de out. de 2007

Torcida, pra que te quero!

Luana Assiz, do Prosa Afiada

100 mil pessoas aglomeradas em um estádio com capacidade para 60 mil torcedores. Esse era o público do Ba-Vi em 7 de Agosto de 1994. O Estádio Octávio Mangabeira foi onde as torcidas assistiram a esta final do Campeonato Baiano. Recordes de público como esse revelam o fascínio que os principais clubes baianos exercem desde sua fundação. Torcer por um time significa não apenas enaltecer a equipe escolhida, mas também provocar o adversário.

A rivalidade entre os torcedores baianos tem chamado atenção da sociedade há alguns meses, quando têm sido amplamente divulgadas as mortes de alguns torcedores (*). A profissionalização das torcidas baianas exaltou os ânimos de seus integrantes, que têm demonstrado o desejo de agredir fisicamente. Segundo Paulo Leandro, editor do caderno A Tarde Esporte Clube, “até os anos 90, as torcidas baianas transferiam o desejo da violência para manifestações culturais, como os cânticos de incentivo a seu time e a confecção de bandeiras e camisas personalizadas. No entanto, não conseguiu manter este padrão cultural”.

Medidas contra a violência

Os episódios ocorridos recentemente, envolvendo agressões fatais nos dias de jogos, levaram o Ministério Público a proibir o uso de bandeiras e faixas nos estádios por alguns dias. A medida vigorou desde 14 de Fevereiro, quando o Bahia enfrentou a Catuense, até 22 de Abril, data do primeiro BAVI da rodada de abertura do quadrangular final do Campeonato Baiano. Segundo o promotor de Justiça José Renato Oliva, “as faixas simulavam a entrada de armas e encobriam as brigas, além de servir de ‘cortina’ para as trocas de camisas dos torcedores que brigavam, na tentativa de despistar a polícia”.

Fé e paixão juntas na torcida pelo Bahia

O torcedor Bartolomeu da Silva, 23, concorda com a proibição de bandeiras e faixas, cujas sustentações servem como arma nas brigas. Para o rubro-negro, as torcidas organizadas são responsáveis pela violência. Ainda assim, defende: “as torcidas locais são um exemplo para os estados do sul e sudeste, apesar das mortes recentes”.


Reuniões com a participação de representantes da Polícia Militar, Ministério Público, Polícia Civil, Federação Bahiana de Futebol, e líderes das torcidas organizadas acontecem sempre que a rivalidade ultrapassa as normas de disputa. Segundo o goleiro do Vitória, Emerson, as reuniões emergenciais não resolvem o problema. “Deveria haver uma ação mais enérgica da polícia, mesmo nos dias considerados ‘normais’. Não adianta fazer reuniões logo depois que acontece algum desastre, e não ter medidas punitivas eficazes”, protesta.

Comportamento do torcedor

O comportamento das torcidas do Bahia e do Vitória foi objeto de estudo de Renato Paes de Andrade, fundador do Instituto Fazer Acontecer - ONG incentivadora de práticas esportivas e ações de cidadania. O psicólogo dos atletas rubro-negros nos anos de 1999 a 2002 e de 2005 esteve próximo das manifestações dos torcedores no Barradão e na Fonte Nova. As análises, feitas em 2003 e 2004, resultaram na dissertação de mestrado que divide as torcidas em três categorias. As “Tradicionais”, surgidas nas décadas de 40 e 50, não são institucionalizadas. Em comum, apenas a paixão pelo time e a amizade entre seus membros. As “Torcidas Modernas” são as organizadas: com sede própria, CNPJ; devidamente registradas. Segundo o psicólogo, este grupo “sempre realça o nome da torcida ao invés do nome do clube, além de agredir os rivais freqüentemente. Exemplo disto são as brigas entre Os Imbatíveis e Bamor”. As “Torcidas de Faixa” são formadas por indivíduos que não têm relações de amizade, mas querem ter uma identidade própria enquanto grupo. Sem um número suficiente de participantes para isso, elas seriam uma espécie de agrupamento primitivo no rol dos tipos de torcidas.

Conflitos

As torcidas Bamor e Os Imbatíveis são as principais envolvidas em tumultos nos clássicos estaduais. A profissionalização desses grupos aumenta o número de subdivisões, o que dificulta o controle das diretorias. Espaços como orkut e fotologs revelam as variadas ramificações destas torcidas. É através da Internet que encontros nada amigáveis são marcados entre os adversários.
A troca de recados e as ameaças através dos muros da cidade também fazem parte do cotidiano de alguns rivais. Segundo Renato Paes de Andrade, a idéia de que o torcedor baiano sempre foi pacífico “é conversa de mídia, usada para promover a imagem do baiano alegre”. O psicólogo sustenta que desde a criação do Barradão, a rivalidade entre os adeptos do Bahia e do Vitória tem se intensificado.


De acordo com o Dossiê do Esporte, 13% dos torcedores mantêm inalterada sua freqüência aos estádios de futebol. Outros 11% deixaram de participar da festa das arquibancadas por causa da violência. A pesquisa foi feita entre torcedores de nove capitais do Brasil no biênio 2005/2006. Paulo Leandro avalia que “os pais não têm segurança em levar os filhos ao Ba-Vi e isto pode dificultar a formação de novos torcedores, pois provoca a migração da arquibancada para o sofá.”

Restam à Federação Bahiana de Futebol as reuniões que antecedem (ou sucedem) os clássicos e o impreciso cadastramento dos torcedores. A Bamor possui um número aproximado de 10 mil associados, enquanto Os Imbatíveis registram 2.300 sócios, segundo o site da torcida.

Fotos: Diego Mascarenhas

Um comentário:

Diego Mascarenhas disse...

essa é a maior torcida do Brasil!
O Bahia não merece a torcida que tem. uma direção de canalhas formou um time medíocre.
hoje quase tenho um infarto por causa desse time.

NÃO AGUENTO MAIS!

( e que venha a próxima fase!)