5 de out. de 2007

As faces de um artista multimidiático

Danilo Azevedo e Luana Assiz, do Prosa Afiada

Não é novidade a relação entre Arnaldo Antunes e a literatura. Desde 1983, o ex-titã proporciona ao público uma outra maneira de consumir sua produção artística. A mais recente publicação circula desde novembro do ano passado, sob o intrigante título “Como é que chama o nome disso”. Nela podem ser lidas (e ouvidas) poesias feitas a partir da palavra. É uma descoberta dos componentes imagem, som e significado, presentes na linguagem. As influências concretistas do autor se desenham nas 392 páginas do livro, o 14° de sua carreira, que reúne produções anteriores. Além da coletânea, os leitores têm à mão uma longa entrevista com Arthur Nestrovski, Francisco Bosco e José Miguel Wisnik. Antonio Medina Rodrigues participa da a obra com um ensaio introdutório.


Arnaldo Antunes canta a música "socorro" numa palestra em Salvador

Arnaldo passeia entre poemas, ensaios, letras de música e caligrafias, selecionados por ele mesmo. A experiência obtida com a publicação de uma antologia pela editora portuguesa Quasi no início de 2006 foi aproveitada. A proposta de Arthur Nestrovski, editor da Publifolha, era produzir um livro que atendesse a diferentes tipos de leitores, com poemas diferentes, facilmente encontrados no repertório de Arnaldo. “O que eu tinha em vista era um livro que fosse representativo de toda essa diversidade, o que eu acho que acabei conseguindo”, detalha o músico-escritor. “Mas claro que esse recorte poderia ser outro, no caso de outra pessoa fazer uma antologia”, completa.

O olhar infantil de um ex-titã

Quem transita pela obra “antuniana” percebe um movimento cíclico no que diz respeito ao tema da infância. Em 1992 foi publicado o livro “As Coisas”, com textos de Arnaldo e ilustrações de sua filha Rosa, então com 3 anos. O produto desta parceria é um livro que dialoga, com a própria poesia de maneira livre e aberta, sustentada por um certo sotaque infantil. No mesmo ano em que nasce “Como é que chama o nome disso”, é lançado o livro “Frases do Tomé Aos Três Anos”. “Na verdade eu não sou autor do texto do livro, e sim o Tomé”, esclarece.. “Eu compilei e ilustrei frases do Tomé porque eu via no que ele dizia coisas que me surpreendiam: eram associações poéticas, muitas vezes filosóficas, com muita inventividade”, detalha Arnaldo.

Arnaldo explica a identificação com a maneira como as crianças costumam se expressar a partir da paternidade: “A convivência com meus filhos me proporcionou a descoberta desse universo analógico que as crianças fazem ao associar as coisas mais diferentes, se expressando de uma maneira muito livre e vendo o mundo de uma maneira muito inusitada de tão óbvia”. Em comum, as três obras têm a relação com a palavra, como fruto de associações livres, redescobertas e neologismos. Arnaldo cita um trecho de um poema de poema Oswald Andrade para descrever sua atual fase: “Aprendi com meu filho de dez anos que a poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi”.

Nenhum comentário: